Conceição Evaristo vencedora do Troféu Juca Pato/2023

Maria da Conceição Evaristo de Brito, conhecida e conceituada
escritora, assina suas obras como Conceição Evaristo, nasceu em Belo
Horizonte, estado de Minas Gerais, em novembro de 1946, mudou-se para o
Rio de Janeiro na década de setenta, trabalhou como doméstica,
posteriormente concluiu graduação em letras na UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro)
, fez mestrado em Literatura Brasileira na PUC – Rio, e
Doutorado em Literatura Comparada na UFF (Universidade Federal
Fluminense)
. Professora da rede pública de ensino da capital fluminense,
atualmente aposentada.

Conceição Evaristo estreou na literatura nos Cadernos Negros da
Quilombhoje, nas séries Contos e Poemas. A escrita de Conceição Evaristo é
centrada no negro na diáspora brasileira, sobretudo a mulher negra, ao
retratar a condição feminina negra na nossa sociedade, sua escrita produz
identificação com seus iguais, ao tempo que proporciona reflexões sobre
gênero, raça e classe.

“A minha escrevivência não é para adormecer a casa grande
e, sim, para incomodá-la em seu sono de virgem. ”(Conceição Evaristo)

O termo “escrevivência” criado por Conceição Evaristo versa sobre a
união das palavras: “escrever” e “vivência”, segundo a autora, é a escrita que
nasce do cotidiano, imersa em realidades pessoais, além de abordar a
desigualdade que permeia nosso país. O conjunto da obra de Conceição
Evaristo reúne uma série de publicações, entre as quais: Ponciá Vicêncio
(2003), Becos de Memória (2006), Poemas de Recordações e Outros
Movimentos (2008), Insubmissas Lágrimas de Mulheres (2011), Olhos D’Água
(2014), Histórias de Leves Enganos e Parecenças (2016), Canção Para Ninar
Menino Grande (2018).

Com reconhecimento de público e da crítica Conceição Evaristo
acumulou vários prêmios entre os quais: Prêmio Jabuti de Literatura em 2015,
na Categoria Contos e Crônicas pelo livro “Olhos D’Água”. Prêmio Faz a
Diferença, em 2017 na Categoria Prosa. Prêmio Cláudia – Categoria Cultura,
em 2017. Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais, em 2017, e, ainda
em 2017 foi tema da ocupação ITAÚ Cultural. Em relação aos prêmios
recebidos por ela, a autora afirma que, prêmios concedidos às mulheres
negras são importantes e extensivo a tantas outras, principalmente por
contribuir para quebrar o imaginário que mulheres negras não reúnem
competências para o discurso do conhecimento acadêmico, nesta perspectiva
seus prêmios significam um fortalecimento a favor do coletivo.

Em 2023, ano em curso, Conceição Evaristo foi vencedora do troféu
Juca Pato de Intelectual do Ano, Troféu concedido pela União Brasileira dos
Escritores, criado em 1962, um dos prêmios mais tradicionais do país, após
61 anos de criação, Conceição Evaristo é a primeira mulher negra a ganhar
este prêmio, anunciado sábado 16/09/2023, por sua contribuição à literatura
brasileira pela obra “Canção Para Ninar Menino Grande”. O prêmio tem
previsão para ser entregue em Minas Gerais durante o (FLITABIRA) Festival
Literário Internacional de Itabira, em novembro deste ano.

É inegável a importância de Conceição Evaristo na literatura brasileira,
tanto por sua intelectualidade quanto por sua representatividade no contexto
da sociedade brasileira, onde a cor da pele com maior concentração de
melanina é fator excludente no universo erudito. A escrevivência de
Conceição Evaristo contribui para proporcionar no cenário acadêmico e
quaisquer outros espaços reflexões acerca do negro no Brasil, em relação às
estruturas de poder que favorecem às desigualdades sociais, distorções
históricas e silenciamento decorrentes de uma história única, abalizada pelo
discurso oficial.

“…. Estou fazendo uma literatura para os meus pares,
para que eles se exorcizem e se reconheçam no meu texto. ”
(Conceição Evaristo)

O mérito do prêmio Juca Pato é resultado exitoso do caminho que
Conceição Evaristo escolheu percorrer desde Belo Horizonte, passando por
sua mudança para o Rio de Janeiro, formação acadêmica, proximidade com
o Movimento Negro, onde conheceu Abdias do Nascimento, Lélia Gonzalez,
Beatriz Nascimento entre outros, através de uma escrita comprometida com
as subjetividades que nos representam, que nos atravessam enquanto negras
(os) na busca por inserção democrática da igualdade de direitos em todos os
espaços sem exceção.

Para todas (os) nós negras (os) a trajetória de Conceição Evaristo
representa possibilidades, trilha pavimentada para tantas (os) outras (os)
seguirem, seja na literatura ou em qualquer outra área, por competência e
direito, convictas (os) dos nossos valores e capacidades herdados das raízes
de África das quais brotamos, dos frutos que representamos e das sementes
que faremos germinar reescrevendo nossa história.